Future Me
Talvez seja por causa desse clima de fim de ano, com a cidade toda brilhando cheia de luzinhas, mas antes de começarmos, já aproveito pra avisar que a newsletter desse mês tá meio mística. Universo, poder, magia, essas palavras estão todas espalhadas pelo texto de hoje. Infelizmente, estamos muito longe de Hogwarts, mas tem outro tipo de magia que existe aqui no mundo dos trouxas também. E uma conversa que tive esses dias na aula com a minha aluna teve tudo a ver com isso, e queria compartilhar com vocês aqui.
Como todo momento na vida, com as aulas também funciona assim: enquanto algumas passam de uma forma mais automática e rotineira, tem outras que são especiais e que jamais vou esquecer. Esses dias, eu fiquei tocada pelo que minha aluna me contou e isso continuou reverberando em mim pra muito além daquela aula. Ela voltou recentemente de uma viagem que foi uma experiência realmente inesquecível, em vários sentidos. E ela me falou que, logo no início desse ano, ela tinha escrito sobre metas e desejos que essa viagem acabou por simbolizar pra ela, mesmo sem jamais imaginar o que estava por vir. Eu falei pra ela que acreditava muito nisso, nesse poder de jogar uma intenção pro universo - e, nessa hora, os olhos meus e os dela já estavam marejados. É emocionate ser relembrada dessa sensação rara, mas valiosa, de se dar conta da magia da vida, e do quão misterioso, imenso e cheio de possibilidades esse mundo se apresenta. Às vezes basta um impulso de sonhar ou desejar, e coisas inimagináveis começam a acontecer.
Enquanto não estivermos comprometidos poderá haver hesitação, a possibilidade de recuar e, sempre, a ineficácia.
Em relação a todos os atos de iniciativa (e de criação) existe uma verdade elementar, cuja ignorância mata inúmeros planos e ideias esplêndidas: no momento em que, definitivamente, nos comprometemos, a providência divina também se põe em movimento.
Todo tipo de coisa ocorre para nos ajudar, que em outras circunstâncias nunca teriam ocorrido.
Todo um fluir de acontecimentos surge a nosso favor como resultado da decisão, todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda material que nenhum homem jamais poderia ter sonhado encontrar em seu caminho.
Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar.
A coragem contém em si o poder, o gênio e a magia! - Johann Wolfgang von Goethe
A escrita é minha forma de jogar tudo pro mundo: anseios, angústias, metas, experiências, aprendizados… E minha aluna me disse que tem esse hábito de escrever também - no caso dela, colocando sonhos e metas em papeis espalhados por aí, em cadernos, nas notas do celular, sem tantas regras como eu. O que quer que funciona pra cada um - independentemente da forma como é feita, a escrita é de fato terapêutica. Como bem falou a escritora Joan Didion, “I don’t know what I think until I write it down” (Não sei o que penso até escrever).
Escrever é como mergulhar aqui dentro e sair das páginas com algum entendimento novo sobre o que eu penso ou como me sinto em dado período. Às vezes tenho a sensação de que as palavras certas já estão ali no papel, basta que eu olhe cuidadosamente, procure o som, o ritmo, a mensagem, pra que elas comecem a fluir. Como se já existissem ali na página, camufladas, invisíveis, e com uma lupa eu fosse cuidadosamente puxando ou arrancando cada uma delas, rearranjando pra que estejam onde deveriam estar.
Eu escrevo em diário desde que aprendi a escrever - e tenho a maioria deles guardados até hoje. O meu primeiro era cor de rosa, da Minnie, com adesivos colados na capa e um cadeado que eu amava trancar e destrancar. Hoje em dia só escrevo à caneta, mas, naquele primeiro, era sempre à lápis - letras garrafais, enormes, trêmulas, com espaçamento todo errado - tal qual a grafia de uma criança deve ser. Uns anos depois, na pré-adolescência, eu vi aquela escrita e achei muito “feinha” - então resolvi APAGAR tudo e reescrever por cima, pra ficar mais bonito. Sério, eu simplesmente apaguei todas as entradas do meu primeiro diário da infância, porque achei a letra feia. Essa canceriana que ama uma memória afetiva sofre de lembrar disso. WHY, Helene?! WHY.
Mas então esse compromisso que me propus esse ano, de escrever a newsletter toda mês, é também um momento de eu parar alguns momentos e refletir sobre como vai a vida e como tenho me sentido… E é um exercício muito desafiador, porque é como se eu estivesse abrindo um pedaço do meu diário pro “mundo” (vocês!), é uma sensação de estar exposta, porque escrever sobre nossas reflexões pode ser algo muito intímo, que às vezes a gente evita dividir até com nós mesmas, imagina com outras pessoas! É por isso que toda vez que recebo algum tipo de resposta sobre a newsletter, eu sinto uma alegria genuína de saber que essas palavras de alguma forma ressoam por aí também.
Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lida é um prazer superficial. - Virginia Woolf
E hoje, chegando no fim de mais um ano, eu quero propor que você escreva também. O site FutureMe (falei dele mais detalhadamente nesse post aqui) te permite escrever uma carta pra sua versão do futuro, e, um ano depois, você a recebe na caixa de entrada do seu email. Enviei duas cartas pra mim mesma nesse ano, uma logo no início, e outra em junho, no meu aniversário; e sei que em 2023 vou receber de volta essas duas surpresas.
E nesse dezembro, pela primeira vez em muito tempo, não tô a fim de pensar nas minhas metas pro próximo ano, ou no que eu poderia fazer de melhor; eu só quero estar aqui. Só quero aproveitar o momento presente da forma como for possível. Só quero viver um dia de cada vez. Às vezes é exaustivo viver no presente olhando sempre pro futuro, pensando sempre no amanhã, no depois, no que precisará ser feito. Tá tudo bem só estar aqui. Só deixar que as coisas se desenrolem como deve ser. Dá pra gente planejar o futuro depois, em janeiro, depois de descansar, depois de recarregar as energias. Hoje, eu só quero estar aqui.
Mas eu proponho que você escreva uma carta pra si mesma, sem nenhuma pretensão. Sem nenhum julgamento. Uma carta pra sua eu do futuro. Talvez o que você queira nesse momento seja fazer planos e jogar pro universo suas intenções e desejos pro próximo ano. Talvez queira só refletir sobre como 2022 foi pra você. Ou talvez precise elaborar e entender qualquer que seja a delícia ou a dor que você esteja vivendo hoje.
E é essa a lição mais valiosa que esse tipo de escrita representa pra mim: o que quer que você esteja sentindo hoje, vai passar. Absolutamente tudo é temporário. Receber uma carta um ano depois em que ela foi escrita simboliza muito isso. Ou revisitar um diário antigo; reler o que você escreveu quando tudo era diferente de hoje. Isso traz uma perspectiva incrível de como tudo é efêmero e vai mudar inevitavelmente. O que parece gigante hoje pode se tornar um pontinho ínfimo lá no futuro. E o contrário também: algo que sequer passa pela sua cabeça hoje é o que mais vai importar pra você daqui a alguns meses ou anos. Não temos certeza ou controle algum. Nada permanece. Mas escrever é uma forma de deixar registrado o que temos e o que somos hoje.
Então te convido a escrever. A fazer esse exercício de se permitir descobrir o que tá dentro de você, hoje. As aflições ou as alegrias vão passar. E essa é a grande beleza de estar viva e ser humana: estar disposta a viver cada momento, cada fase, por inteiro. Porque vai passar. E o que fica é o que aprendemos com tudo isso.
Because you are alive, everything is possible. - Thich Nhat Hanh
Qualquer mistério, qualquer coisa extraordinária… tudo, tudo, tudo é possível, porque você está viva hoje.
Aproveite!
Muito obrigada pela companhia de sempre, e que 2023 seja cheio de surpresas maravilhosas!
Helene.