I will dream
Esta vida é sua. Tome o poder de escolher o que você quer fazer e faça-o bem. Tome o poder de amar o que você quer amar e ame honestamente. Tome o poder de conduzir sua própria vida. Ninguém mais pode fazer isso por você. Use seu poder para tornar a sua vida feliz.
— Khalil Gibran
Foi o maravilhoso, divo eterno Vinicius de Moraes quem afirmou, no Samba da Bênção: É melhor ser alegre que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração. Então, com a bênção do poeta, vou me permitir escrever sobre viver com intenção: não só de ser alegre em vez de triste, mas também de assumir pra nós a responsabilidade da nossa própria vida.
What’s your biggest fear in life? (Qual é o seu maior medo na vida?): essa pergunta apareceu esses dias numa aula de conversação em trio e a troca que aconteceu me fez pensar. Algumas respostas foram aquelas universalmente comuns: medo de ver quem a gente ama sofrendo, de perder pessoas queridas, de perder todos os bens (como inúmeras famílias no Rio Grande do Sul recentemente). E aí uma aluna mencionou o medo de não viajar, de não conhecer os lugares que deseja, de não fazer o que sonha fazer.
Uma outra aluna do trio disse que hoje já não sente mais esse medo de perder pessoas amadas, porque, ao ter experienciado a morte do pai (💔), entendeu como realmente não temos controle algum sobre esse tipo de circunstância. Mas que agora, ainda mais forte do que antes, ela tem esse desejo de realmente realizar sonhos e viver. Acredito que até como uma forma de honrar a vida do seu pai.
Às vezes é angustiante pensar em como a vida é essencialmente injusta; mas há um certo alívio em se entregar às verdades doloridas e irrefutáveis, já perceberam? A psicanálise traz sempre a reiteração da consciência de que cada escolha implica necessariamente uma perda - não se pode ter tudo. Não há como evitar a dor, porque ela é parte da experiência de ser humano.
Como em todas as vezes em que senti tristeza, ansiedade, angústia, dúvida, e tentei lutar contra o sentimento, ele parecia se intensificar e crescer. Nas vezes em que cedi e pensei: isso é difícil pra caramba mesmo, tá tudo bem chorar, tá tudo bem se não conseguir dormir, tá tudo bem você se sentir exatamente como está se sentindo - essa permissão para sentir fazia com que os sentimentos viessem e fossem embora, sem ocupar um lugar ou um tempo maior do que o necessário.
But we cannot simply sit and stare at our wounds forever.
(Mas não podemos simplesmente sentar e olhar nossas feridas para sempre. - Stare significa olhar fixamente, encarar.)
— Haruki Murakami
Freud propôs a pergunta: Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?. Acho que crescer tem a ver com isso: olhar com sinceridade pra vida e entender aquela parte que é intrínseca e que não podemos mudar, mas também assumir a outra que está, sim, sob nossa responsabilidade.
Escolher como queremos viver ou que sonhos queremos seguir é a coisa mais íntima e particular de cada um. No fim do dia, ninguém vai sentir seus sentimentos por você, ninguém vai estar na sua mente por você. Quando sinto pressão externa por algumas decisões ou expectativas, eu tento me lembrar de que, no fim das contas, quem vai experienciar o resultado das minhas escolhas sou só eu mesma. Por isso, quero sempre me atentar para viver com intenção (amo que essa palavra tem uma qualidade muito humana, porque comporta não só o desejo e a tentativa, mas também as possíveis falhas).
Eu ia dizer que honrar a nossa própria vida não precisa ser sobre sonhos grandes (como ver a aurora boreal, visitar o Japão, escrever um livro), mas sim sobre os pequenos momentos diários de alegria, no que é possível hoje. Claro que isso é fundamental. Mas por que nos privar de imaginar sonhos incríveis, aqueles que nos fariam tão felizes que a gente esconde bem fundo pra que não nos importunem?
É assustador encarar nossos sonhos com a seriedade que merecem, porque o possível não-realizar passa a ser muito mais doloroso do que se simplesmente olhássemos pra eles como inatingíveis, fantasiosos. A responsabilidade de se permitir sonhar implica também sustentar a dor da possível frustração. Mas bancar nossos sonhos, até mesmo os mais selvagens, é um presente que só nós mesmas podemos nos dar. ♡
I will cut adrift—I will sit on pavements and drink coffee—I will dream; I will take my mind out of its iron cage and let it swim—this fine October.
(Eu vou me desprender — Vou sentar nas calçadas e tomar café — Vou sonhar; Vou tirar minha mente de sua gaiola de ferro e deixá-la nadar — neste belo outubro.)
— Virginia Woolf escreveu isso num outubro, mas podemos guardar como um lembrete para todos os meses.
Obrigada pela companhia de sempre e até junho,
Helene.