Whatever works
Whatever works é o título do meu filme preferido de Woody Allen. Apesar de considerá-lo deplorável como ser humano - já que se casou com a própria enteada -, como diretor ele é demais (e aqui vamos precisar deixar pra outro dia a polêmica dicussão “é possível amar uma obra e não o criador da obra?”). Amo o estilo dos filmes dele, mas Whatever works é com certeza o que eu assisti mais vezes e o que mais me encanta.

No filme, a gente acompanha Melodie, uma menina do interior, muito jovem e ingênua, que se muda pra NYC e conhece Boris, um acadêmico pessimista e rabugento, na casa dos 60 anos, que busca ensinar a Melodie seus pontos de vista morais e suas ideologias. Além da amizade e do relacionamento imprevisível que os dois personagens constroem, os pais da jovem, fundamentalistas religiosos extremamente conservadores, também experimentam uma mudança de vida ao chegar em NYC: a mãe passa a ter um relacionamento aberto com dois homens, e o pai dela se descobre gay.
Whatever works é uma expressão em inglês que significa algo como “o que quer que funcione pra você”. Simples mas tão cheia de significado, né? E os desdobramentos do filme, assim como o título dele, apontam pra mesma direção: há no mundo inúmeras formas de viver e de amar; não há certo ou errado, há somente o que funciona e faz sentido pra você.
E uma série muito boa que vi recentemente, Mr. Corman, sobre um músico frustrado que se torna professor infantil, me fez pensar nessa mesma expressão. Num dos episódios, a série nos apresenta o personagem em diferentes realidades - como ele seria se fosse um empresário bem-sucedido, ou um pai de família, ou um guitarrista famoso com sua banda de rock… É muito louco pensar que alguma escolha que fizemos no passado, ou todas as sequências de escolhas já feitas, são as responsáveis por estarmos aqui hoje, vivendo da forma como vivemos, e que qualquer decisão diferente lá atrás poderia ter mudado absolutamente tudo. Chorão tava certíssimo: cada escolha, uma renúncia. Ao escolher nossos caminhos, estamos abrindo mão de todos os outros, e isso me parece um pouco intimidante.
E pra mim, essa é a mesma premissa da cena final de La La Land, em que em um relance nos é apresentado um fim alternativo, um em que o casal de fato ficaria junto. Engraçado: conversando com outras pessoas que assistiram ao filme, muitas delas o encararam como uma história de amor muito bonita, mas pra mim foi algo completamente diferente disso. A melhor forma que consigo explicar o que senti na cena final é que foi como uma adaga afiada dilacerando meu coração. Perdoem essa canceriana exagerada, mas aquele fim realmente doeu e me fez sair da sala de cinema com os olhos inchados de tanto chorar. Foi agoniante ver expostos assim, de forma tão clara, o que foi e o que poderia ter sido, os sonhos que mudam ou ficam pra trás, os rumos que a vida toma.
Pensar sobre realidades alternativas, e considerar a força que cada uma de nossas escolhas têm sobre nosso “destino” (socorro, outra questão que caberia aqui…), é algo que me fascina. Quantas outras versões diferentes de mim, quais outras Helenes poderiam estar aqui? Não tenho conclusão pra hoje, então vou me contentar em dizer o seguinte: whatever works, o que quer que faça sentido pra você, que você acredite nisso, e viva isso, e que suas escolhas diárias colaborem a favor disso.
“The more you love your decisions, the less you need others to love them”.
(Quanto mais você ama suas decisões, menos você precisa que outros as amem.)
Obrigada pela companhia de sempre e até agosto,
Helene.