O Caminho do Artista
Comecei a ler O Caminho do Artista hoje e resolvi fazer um teste: seguir o que a autora sugere e escrever esse texto menos com a mente racional, e mais com o fluxo de consciência. Sei lá se posso chamar assim ou se faz sentido nesse momento - opa, lá vem a autocrítica habitual tentando me sabotar. Então, retomando: não tente, teste. Vi essa ideia em algum lugar e ela me agrada. Tentar implica a possibilidade de falhar. Testar traz a noção de experimentação, de diversão até.
Pra quem nunca ouviu falar, não se trata de um livro que a gente apenas lê, mas um livro que a gente faz. Porque ele traz uma jornada de 12 semanas, com atividades a serem realizadas diária e semanalmente, que têm como objetivo levar o leitor a acessar ou a redescobrir sua criatividade (ao longo desse texto, vou falar mais detalhadamente sobre as atividades).
Esses dias, comentei na aula com uma aluna que eu pretendia iniciar o livro, expliquei sobre ele e tudo. E aí falei que comprei o meu já tem uns dois anos. Então caímos na gargalhada: como posso ter demorado tanto pra começar? Por que adiar tanto algo que venho há literalmente anos pensando em fazer?
Dois anos que o livro está parado na minha estante. Mas não esquecido ou abandonado: nesse período, passei a "investigar" mais a fundo sobre ele, numa tentativa de garantir que faria sentido pra mim (controladora será? 😶). Li textos (como esse aqui, da Stephanie Noelle), ouvi podcasts, assisti vídeos. Acho que demorei tanto pra iniciar porque, como me conheço bem, sei que posso ser bem dura comigo; sei que vou querer cumprir cada uma das atividades propostas com uma rigidez que me é característica, principalmente quando se trata de compromissos assim. Mas, quando comentei desse meu receio com a Thamine, minha prima maravilhosa que já fez O Caminho do Artista, ela disse que o livro pode me ajudar inclusive com isso também: a ser mais flexível comigo mesma, da mesma forma como sou com os outros.
Nesse tempo, também assisti a uma entrevista com a autora do livro, Julia Cameron, e a escritora Liz Gilbert. Liz conta que O Caminho do Artista havia sido o responsável pela descoberta do seu desejo de aprender italiano - o que a levou à Itália para estudar o idioma, e que então acabou resultando na experiência de vida que a levou a escrever Comer, Rezar e Amar. O livro se tornou um best-seller mundial e, depois, virou o famoso filme com Julia Roberts, sucesso de bilheterias. Incrível como a vida dela tomou um rumo inimaginável a partir da descoberta de um desejo que esse processo revelou.
Eu tava em dúvida se deveria escrever a newsletter sobre O Caminho do Artista antes mesmo de começar as atividades. Mas como é algo que tá borbulhando na minha mente nesses dias, achei que faria sentido. Até mesmo como uma forma de, depois de completado os três meses, poder reler esse texto e ver o que mudou. E me parece que é algo que interessa às pessoas ao redor de mim - algumas alunas com quem conversei também decidiram fazer! Então se você que tá aqui quiser conversar mais sobre isso ou começar essa jornada também, me escreve nos comentários contando? ♡ Imagino que vai ser muito legal trocar ideia sobre tudo isso ao longo dos próximos meses.
Uma das atividades propostas no livro é o encontro com o artista. É basicamente você levando a si mesma - sua criança interior - pra fazer algo divertido e interessante, uma vez por semana. O foco aqui é realmente a diversão. É uma forma de você nutrir sua criança e sua criatividade. E, apesar de eu amar ficar sozinha e passar tempo comigo mesma, eu nunca faço isso para além do conforto da minha casa. Se for pra ir ao cinema, a restaurantes diferentes, rolês culturais, shows, passear ou explorar qualquer lugar que seja, eu invariavelmente convido alguém pra ir comigo. Então já prevejo que o encontro com o artista vai ser um desafio pra mim, mas acho que vai ser importante justamente por isso! Então tô bem animada pra essa parte hehe.
Outra atividade obrigatória - sim, ela usa a palavra obrigatória - são as páginas matinais: pelas 12 semanas, você deve escrever t-o-d-o-s os dias, assim que acorda. O objetivo é que, a partir desse exercício, você se conecte com sua força criativa interior, descubra sobre seus desejos mais profundos (assim como Liz), acesse lugares de si mesma que ainda desconhece (já leu essa newsletter aqui? De alguma forma, ela tem tudo a ver com isso ♡).
É impossível escrever as páginas matinais por um período longo sem entrar em contato com um inesperado poder interior. (...) As páginas matinais mapeiam o nosso interior. Sem elas, nossos sonhos podem permanecer como terra incognita.
— Julia Cameron
Logo na introdução do livro, Julia Cameron conta que, enquanto escrevia, aconteceu o seguinte: "Então, numa manhã úmida, um personagem chamado Johnny apareceu nas minhas páginas. Sem planejar, eu estava escrevendo um romance. As páginas matinais me ensinaram o caminho." Isso me fez pensar no que Socorro Acioli falou em sua visita ao SESC Cadeião nesse mês, ao refletir sobre seu processo de escrita. Jornalista por formação, ela afirma que, ao escrever um romance, investiga alguma história ou evento real até o esgotamento - e, a partir daí, do que fica para além das respostas, ela inventa, imagina. Então seus livros são uma mistura de realidade com ficção, com o fantástico. Mas o que mais me chamou a atenção na fala dela foi quando contou que, pra se tornar escritora, nunca teve uma iluminação, um chamado, nenhum personagem apareceu em seus sonhos com a história já pronta.
Pra ela, a escrita é um projeto - ela mencionou essa palavra diversas vezes - que demanda planejamento, tempo de dedicação, muito estudo. Ela enxerga o ofício de escrever como qualquer outro, que precisa ser feito com disciplina e empenho, independentemente da inspiração. Amei saber que ela fez diversos cursos ao longo da vida para aprender a ser escritora - que a ensinaram a criar personagens complexos, a desenvolver o arco da narrativa, a definir como a história vai ser narrada etc.
Depois, fiquei pensando nisso, em como me assustava pensar que a ideia de ser escritora - algo que sempre sonhei mas que tinha vergonha de verbalizar (minha amiga Layse sempre me incentivou a me apropriar disso) dependeria dessa inspiração, dessa coisa meio mística que muitos autores já relataram fazer parte do seu processo de escrita. E Acioli me fez entender que não necessariamente precisa ser assim; que essa habilidade, assim como qualquer outra, pode ser ensinada, aprendida e praticada. E, seguindo minhas palavras pra esse ano (lembram?), me inscrevi no curso da Socorro Acioli que vai ser agora em setembro! ♡ Acredito que vai ser interessante praticar a escrita nesses próximos meses dessas duas formas distintas: como projeto, como ensina Acioli, e a partir de um fluxo de inspiração interior, como propõe Cameron.
Go all the way with it. Do not back off. For once, go all the goddamn way with what matters.
— Ernest Hemingway
Obrigada pela companhia de sempre e até setembro,
Helene.
Você é muito necessária sabia??? Já deu vontade de ler e fazer este livro!